segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

DIVINA PROPINA


Existem muitas definições de propina e suborno. A despeito de todas elas, resumo da seguinte maneira: tentar impedir, através de meios escusos, o curso natural das coisas de modo que não atinja resultado negativo a si próprio.

Explico usando a cena mais batida do mundo: o policial que pára você na estrada por excesso de velocidade. O curso natural das coisas é você receber uma bela multa (talvez até apreensão do carro), mas você tentará “sair do curso natural” com uma conversinha mole ou oferecendo propina ao guarda.

Outra: você precisa urgentemente de um certo documento numa repartição pública. O curso natural das coisas é o tal documento demorar muito, mas muito mais do que o razoável para chegar às suas mãos e você perder o seu prazo. Não aceitando isso, oferece uma graninha ao funcionário para que apresse a papelada em meio à oceânica burocracia.

E quem nunca ouviu falar dos comerciantes que sempre pagam uma caixinha aos fiscais da prefeitura ou do famoso “jabá” pago às rádios para tocarem determinadas músicas? Todas essas – e muitas outras – são formas de propinas, de suborno, de corrupção.

Ampliando o contexto, fazer aviãozinho pro bebê comer logo o "papá" também é uma forma de subornar o pequeno inocente. De outra maneira (seguindo o curso natural das coisas) ele não comeria aquele pote nem a pau...

Mas vejamos sob outra ótica: você ou alguém querido seu está numa certa situação (doente, endividado, desempregado, sei lá) e, novamente, a seguir o curso natural das coisas o desenrolar pode ser bem negativo. E o que você faz?

Reza, ora.

Seguindo o ponto de vista acima apresentado, você está tentando subornar Deus!

Sim, é isso mesmo: rezar é a mais estratosférica tentativa de suborno da mais alta autoridade conhecida.

É delicado, é uma provocação, mas é lógico. Apesar de ser um hábito profundamente arraigado em (quase) todos nós (assim como a corrupção), rezar é uma tentativa de fazer com que a mais alta autoridade do universo quebre as regras por Ele mesmo criadas e dê um jeitinho nas coisas pra você.

Toda vez que você pede a deus que faça isso ou aquilo você está tentando obter ajuda para mudar o destino. Um desviozinho, nada demais. É corrupção!

Pior: muita gente faz e paga promessas quando (ou se) obtém resultado favorável. Dupla corrupção!

E depois ficam falando mal do pobre do Renan Calheiros...

Um comentário:

robertobech disse...

Essa da propina divina foi boa... sabe que quando eu era moleque, quando eu rezava e dizia "papai do céu, fui um menino bonzinho", eu sempre completava com um "mas ó, Deus, eu não fui bonzinho só porque quero ir pro céu não".

Desde pequeno eu me incomodava com essa coisa de trapaça divina. Acho que já era um sinal de que eu ia virar ateu :-)