segunda-feira, 16 de novembro de 2009

PALPITEIRO DE PLANTÃO

Eu estudei Publicidade e Marketing. Estudei bastante, mas mesmo assim dou bolas fora, como todos os especialistas por aí, exceto Kotler, claro.

Lembro que a primeira vez em que me deparei com a revista Caras torci o nariz e perguntei a mim mesmo quem iria querer comprar uma revista como aquela. Fútil, rala, superficial, falando da vida dos ricos e famosos em poses forçadas nas fotos em castelos da Europa, exibindo sorrisos clareados ou jaquetados em dentistas careiros.

Eu havia esquecido dos wannabes, aquele consumidor classe média que sonha em ser como os fotografados nela. São milhares, milhões provavelmente.


Errei feio também em relação ao BBB. Pensei que não passaria da segunda temporada. Afinal, quem iria querer assistir a um bando de gente tosca, porém bonita, falando bobagens em Português ruim? Até teria alguma graça se fosse realmente um reality show, mas todo mundo sabe que não é. Tem produção e enredo, participações, atitudes e representação de personagens numa espécie de novela, porém de nível ainda mais baixo.


Superestimei o público telespectador, assim como o fiz quando estreou o Programa do Ratinho. Eu achava que era apenas um programete do tipo “pinga sangue” para classe D e E, mas me surpreendi quando os mesmos wannabes classemedianos, em jantares regados a prosecco, o tornaram Cult, dizendo que achavam engraçado, divertido, apenas curiosidade. A febre passou, mas não deveria nem ter pegado.


Mas eu também acerto, às vezes.


Quando parecia que o mundo todo estava mergulhando de cabeça no Second Life eu me sentia, mais uma vez, um estranho no ninho. Não via utilidade naquilo nem como poderia ser sucesso algo que dependia necessariamente de volume (de pessoas, usuários) num país de baixa renda em que o acesso a computadores e banda larga ainda é utopia para mais de 90% da população.


Zilhões de dólares investidos, diversas empresas acionaram seus departamentos de marketing para criar estratégias para adentrar ao mundo virtual e... Deu no que deu, ou seja, em nada, aqui e lá fora.


Na linha “uma onda” – que vai embora do mesmo jeito que chega - acertei quanto ao “O Segredo”. Veio como uma avalanche, todo mundo só falava naquilo e... Virou fumaça, ninguém lembra mais. Ainda bem.


Então chega o iPhone.

Inegável: a Apple, pelas mãos mágicas de seu mestre Steve Jobs, tem o mérito de ter se transformado em mito, como a Harley Davidson, algo que pouquíssimas marcas conseguem. Apesar de ambas não passarem incólumes nem vencerem testes comparativos com suas concorrentes, elas tem um carisma construído com talento extraordinário, insistência e muitos milhões em marketing.


O iPhone transformou o mercado, fez toda a concorrência correr para o touchscreen (que eu ainda acho que é pura melação de visor) e as mais diversas empresas do planeta a desenvolverem softwares compatíveis com o aparelho, tentando aparentar modernidade e avanço tecnológico na rabeira do celular da Apple. Mas isso foi há meses, vários meses...

No final de semana, em anúncio de uma página inteira de jornal, vi mais um aplicativo desenvolvido para iPhone, um tal de iLocal.


Ôpa! Péraí.


A febre do iPhone já passou. Sim, ainda há muitos que sonham com um aparelho daqueles mas, segundo números divulgados recentemente, no Brasil foram comercializados “apenas” 200 mil iPhones, pouco mais, pouco menos.


Ora, num país com quase um celular por habitante, ou seja, uns 170 milhões de aparelhos, o número de iPhones é ínfimo. Pode-se até considerar que seja um público diferenciado, um nicho de mercado, mas é um engano. Nesse mesmo nicho estão os felizes proprietários de Blackberries, Nokias, Palms, vários deles mais caros que o iPhone e, não consigo deixar de citar, muito melhores tecnicamente falando.


Porquê não desenvolver um aplicativo “para celulares” ao invés de “para iPhone”?


Se alguém tiver números que corroborem a validade (ROI) de criar coisas só para o iPhone, eu gostaria de ver.

Nenhum comentário: