quinta-feira, 15 de abril de 2010

E POR FALAR EM CAFÉ...


Tempos atrás houve grande celeuma e discussões acaloradas sobre cafeterias. A rede Starbucks estava para chegar ao Brasil e foi, através de diversos comentários e posts na internet, bem-vinda e demonizada por montes de pessoas de ambos os lados.


Demonizada por questões políticas (abusam dos funcionários, só contratam adolescentes para não ter vínculo empregatício...), patrióticas tipo “o café é nosso” ou puro preconceito contra uma empresa onde “...só os metidos a ricos vão tomar café lá” e que “... não vende café, vende conceito”.

E foi bem-vinda por muitos, que para lá se deslocaram e beberam várias xícaras de “conceito”...

Nas discussões de nível menos raso, a preocupação era o preço do café-com-conceito. Um parêntese: sim, a rede tem um conceito, sua marca tem alma, mas vende sim café, e cafés especiais do mundo inteiro de qualidade inquestionável.

A questão nesses fóruns e nos diversos e-mails que troquei com colegas era se o brasileiro médio estaria disposto a pagar 4 ou 5 reais – era o valor que se estimava – por um cafezinho na Starbucks enquanto costumávamos pagar R$1,00 ou R$1,30 em outras cafeterias já estabelecidas aqui.

A resposta agora é óbvia: sim, está mais que disposto. Basta passar em frente a qualquer loja da rede, especialmente as de shoppings (criticadas por essa localização, pois perdiam o charme das de rua como em NY) e perceber que em muitos horários nem se encontra lugar pra sentar.

E mais: o tal brasileiro médio se mostrou tão disposto a pagar bem mais caro por café e conceito que outras redes, antes “sem conceito”, reestilizaram suas lojas e alinharam seus preços para cima, acompanhando a recém-chegada.

Marqueteiros de plantão que duvidavam que esse “P” estivesse adequado ao mercado nacional tiveram de rever seus conceitos. O fenômeno foi o inverso do esperado: uma rede com produtos mais caros encareceu todo o mercado.
Noutro causo, tempos depois, chega a Nespresso. O Madia escreveu primeiro o que eu já pensava em escrever, mas aí vai: cafés especiais, lojas fantásticas, atendimento impecável, máquinas bacanas para você fazer seu espresso em casa, mas...
Péra lá: as máquinas deles só fazem café com o café deles, pois utilizam um “exclusivo sistema de cápsulas”, o que significa não poder utilizar nenhum outro tipo ou marca de café que não o deles ao adquirir uma máquina daquelas.
Foi uma tentativa de lock in de sistema descrito no modelo Delta de estratégia de mercado: a empresa te prende a ela e impede evasão ou invasão com tecnologia própria, patenteada.

Funcionou no começo, ou até esse momento, pois os early users endinheirados já correram para a novidade. Mas mesmo eles começam a reclamar, pois não encontram as tais cápsulas facilmente por aí.

Para quem comprou uma máquina Nespresso, tomar café em casa obriga a uma visita às lojas Nespresso sempre que seu estoque de cápsulas acabar.

Em tempos de desbloqueio de celular, uma empresa vem e bloqueia seu sagrado café. Estranho isso, não? Será que vai pra frente?...

Se você é da turma que acha ridículo pagarmos caro para tomar nosso próprio café exportado pra lá como commoditie e em seguida ele mesmo importado como artigo de luxo após receber uma etiqueta de grife, pense: enquanto ainda nos esfacelamos para baixar o preço da saca de café e concorrer com outros diversos países lucrando migalhas com um produto da indústria primária, outros países vendem "conceitos", máquinas, filtros de papel e outros diversos, todos em torno do mesmo café, lucrando muito mais com a indústria terciária.

Quando seremos, de fato, o país do futuro?

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